Anterior a isso, logo no começo do programa, Dourado teve um papo sobre samurais com Michel e Tessália. Alguém se lembra? Dava pra perceber nitidamente o quanto esse assunto lhe encanta.
Por isso, tive curiosidade de pesquisar mais sobre os samurais e veja que legal o que encontrei:
Samurais: Guerreiros além da Força
Eles não temiam a morte e prezavam, acima de tudo, a honra e a retidão de caráter. Os princípios éticos e humanitários que norteavam sua conduta são lições de autoconhecimento, que continuam tão atuais quanto no Japão de quase mil anos atrás e podem ser um reforço para enfrentar as batalhas de todos os dias.
As armaduras eram enormes e imponentes, feitas de ferro, couro, madeira e seda. Os capacetes exibiam chifres ou formas de criaturas medonhas. A aparência dos samurais, guerreiros do Japão medieval, era amedrontadora. Mais ainda porque vinha precedida por sua fama. Esses ferozes e exímios espadachins, com coragem e frieza, lutavam com a firme determinação de vencer... ou morrer. Mas, fora do combate, exibiam sua outra face: eram homens altamente espiritualizados e de sensibilidade refinada.
É uma complexa combinação de bravura e caráter, de compaixão e implacabilidade, que torna fascinantes esses lendários personagens. Um encantamento que hoje estimula a procura pelas antigas artes marciais praticadas por esses guerreiros e inspira livros e filmes dedicados a esse tipo de vida e filosofia, como O Último Samurai, com Tom Cruise.
A era desses guerreiros durou de 1192 a 1868, em que o Japão esteve sob permanentes conflitos internos de feudos contra feudos. Os samurais eram responsáveis pela defesa desses territórios, cada um governado por um senhor – o nome, vem de samburau, que significa “servir a um senhor”.
Espada, a alma do guerreiro
A arma inseparável de um samurai era a espada, considerada quase uma extensão do corpo. “Eles eram mestres da arte do kenjutsu, a luta com a espada”, explica Marcelo Neje, instrutor de artes marciais e coordenador do Instituto Cultural Niten, com 30 unidades em todo o país. Chamada catana, essa arma era a “alma do guerreiro”. Forjada em ferro, podia ser usada para matar ou fazer justiça. O mais famoso samurai de todos os tempos, Miyamoto Musashi, que viveu entre os séculos 16 e 17, criou um estilo de luta com duas espadas, uma em cada mão.Mas, por trás do destemor, estavam homens que cultivavam valores humanitários. “Os samurais seguiam um rigoroso código de ética e moral, o Bushidô, em cuja base estavam virtudes como justiça, ética, compaixão, lealdade, educação e sinceridade”, explica Marcelo Neje.
Eles não ambicionavam poder ou riqueza. Esse desprendimento tinha origem nos ensinamentos das três religiões que coexistiam no Japão – o budismo, o xintoísmo e o confucionismo – e faziam parte da preparação psicológica e espiritual dos guerreiros.
Poesia, teatro e arranjos florais
A formação do samurai era complementada pelas artes, que refinavam sua sensibilidade. “Eles estudavam poesia (haicai) e caligrafia (shodô), apreciavam o teatro nô e os arranjos florais (iquebana)”, conta Marcelo.
Além de meditar, praticavam a cerimônia do chá (chadô). Esse delicado ritual proporcionava momentos de paz e contemplação, fundamentais para se recuperar do choque das batalhas. Nele, também acalmavam a mente e exercitavam a concentração, atributo indispensável aos combates. A desonra era a pior humilhação. “Se capturados pelo inimigo, praticavam o haraquiri, suicídio ritual que consistia em enfiar a espada no próprio ventre”, conta Marcelo Neje.
Nas guerras, os samurais eram conhecidos não apenas pela técnica mas também pelo sangue-frio e pela disciplina. Como naqueles tempos, alcançar isso é hoje uma das partes fundamentais nos cursos que ensinam o kunjutsu e outras artes marciais, como o jiujutsu (a luta corpo a corpo), o jojutsu e a naginata (técnicas de combate com bastões de carvalho) e o iaijutsu (arte de desembainhar a espada com precisão e velocidade). “É preciso relaxar a mente para que haja concentração nos movimentos do corpo e no manejo da arma”, explica o instrutor Marcelo.
Samurais urbanos
“Como os samurais jamais abandonavam a luta, aprendi a não desistir facilmente de minhas metas”, conta o baterista Paulo Mariz, 32 anos, de São Paulo, que também treina kenjutsu. Nas meditações, parte inseparável dos treinos, ele pôde desenvolver a concentração e, principalmente, a calma. “Em apenas alguns meses, curei uma síndrome do pânico que tratava com remédios sem sucesso”, diz o músico.
Hoje, as artes marciais dos antigos samurais não são apenas privilégio masculino: as mulheres também são bem-vindas em escolas e cursos. Naomi Takeda Arruda, 25 anos, de São Paulo, administradora de empresas, pratica kenjutsu e descende, por parte de mãe, de uma linhagem de samurais originária de Chiba, perto de Tóquio, que remonta ao século 6. “Minha mãe era neta de samurais”, diz ela.
“Com a prática, além de desenvolver a flexibilidade e a resistência, aprendi a respeitar o próximo e, principalmente, a cumprir as promessas, que eram pontos de honra para os antigos”, afirma a administradora. E não só: “Os samurais viviam sob o permanente estado de alerta, pois poderiam ser convocados para a guerra. Com sua filosofia, comecei a dar valor a cada momento e jamais deixar nada pendente”.
“Quando agimos perfeitamente concentrados, a margem de erro é muito menor”, acredita Paulo Mariz. “No kunjutsu, cada combate dura dois minutos, mas um oponente pode ser derrotado em questão de segundos, ao receber um golpe que, se fosse dado com a espada de metal, seria fatal”, descreve Paulo. Essa postura firme vale para todas as áreas da vida, completa ele. “Só conseguimos evoluir e atingir metas quando a mente está 100% focada em nossos gestos, atitudes e propósitos.” Eis é uma das lições dos samurais que deverão permanecer ainda por muitas gerações: a importância de desenvolver a coragem e a perseverança, de cultivar a compaixão e, antes de tudo, de ser afiado e justo... como a lâmina de uma espada.
Creditos: Bons Fluidos - Editora Abril - Texto: Wilson F. D. Weigl
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