OPINIÃO

Veja que comentário bacana que recebemos da Patricia. Vale a pena ser postado, né? E para ilustrar esse belo texto nada mais oportuno do que uma foto tirada pelo próprio Dourado. Veja que foto linda! Ele ADORA tirar fotos do Pôr do Sol da janela do avião. Depois postaremos as demais fotos.

Agora fiquem com o texto da Patricia.

Obrigada, Patricia!

Oi pessoas,

Meu nome é Patricia, sou jornalista e, a despeito de TODOS os meus amigos e parentes, assisto ao BBB! E, imaginem, todos eles me sacaneiam por isso!! Liberdade para a diversidade televisiva!! (hehe, apenas pra citar o "tema" desta edição do programa).

Emfim, descobri este blog e adorei. Porque, apesar de nunca ter torcido por nenhum participante (eu vejo o BBB como um jogo divertido e, pretensiosamente, para descobrir como são as pessoas imprensadas em uma casa, tendo que conviver forçadamente e jogadas aos leões da crítica implacável), apesar de não torcer, é claro que como espectadora simpatizo com este ou com aquele. Em fãzice babaca.

Esse blablablá introdutório é apenas para localizar o que escrevo adiante. Enviei, ontem à noite, um e-mail a uma das blogueiras mais antigas que falam sobre BBB. Após ter visto uma bela cena do Marcelo Dourado. E, como descobri este blog hoje, achei que poderia enviar a vocês um trecho do e-mail, porque imagino que os que vêm aqui devam ter a mesma visão que eu.

O trecho do e-mail: "Vejo agora uma cena que me comove pelo que ela tem de translúcido, de transparente ao extremo - sem que seja preciso dizer uma única palavra, chorar lágrimas de crocodilo para as dezenas de câmeras ou qualquer apelo sentimentalóide de compaixão ou caridade: Marcelo Dourado acaba de sair da jacuzzi - onde ficou por um bom tempo sozinho -, para onde foi após sair da piscina - também sozinho - e senta-se (sozinho, enquanto todos os outros estão em seus quartos conversando) em um dos ambientes externos para fumar um de seus cigarros de cravo. Olha para cima, para além dos imensos e cegantes holofotes do jardim. Imagino que esteja olhando para a enorme lua cheia que paira sobre nossas cabeças cariocas neste momento. E olhando para ele conseguimos LER o que ele está pensando. Conseguimos perceber a dor que este cara de 37 anos carrega dentro de si e a luta que trava consigo mesmo neste momento. Me arrisco a dizer que ele pensa em tudo o que tem vivido nestas primeiras semanas de jogo. Na valia (ou não) nesta sua reentrada para o mundo das celebridades instantâneas que - é o que ele pode imaginar lá dentro, sem saber que aqui fora já é acarinhado por muita gente - pode fazer com que ele perca o pouco que conseguiu após ter sido defenestrado pelo establishment após seus 15 minutos pós-BBB4.

Imagino que seu medo deva ser enorme. Passar novamente por tudo o que passou, pelo massacre de críticas muitas vezes injuriosas após deixar o programa da primeira vez. Perder suas aulas nas quatro academias em que tem de ralar das 6h às 22h todos os dias (segundo ele mesmo). Perder o respeito dos alunos de quem, mais cedo, em conversa com Tessália e Michel, ele diz, humildemente, ter conseguido o respeito. Não conseguir mostrar que em seis anos deixou de ser o polêmico-revoltado-que cuspia-na-cara-do-Caetano-Veloso para se tornar um homem que luta a cada dia para se manter de pé.
Quando, no primeiro dia desta temporada, nos foi avisado que quatro ex-BBBs iam entrar na casa, eu pensei: pô, tomara que um deles seja o Dourado. E quando vi que era, e que dependia dos participantes sua entrada, já comecei a torcida. Na primeira semana, com aquele espetáculo de crueldade, preconceito e marginalização do Dourado, por parte de quem se diz maginalizado e vítima de preconceito - e por outros, que foram atrás da carruagem por onda ou por saber que daria ibope - cheguei a me emocionar pela solidão do Marcelo. NOTA: não sou, como espectadora de BBB, fã deste ou daquele. Gosto do jogo, em primeiro lugar; gosto de quem se mostra no jogo. E gosto de observar quem está ali dentro, as nuances e mudanças que vão acontecendo com um e com outro. Um olhar pretensiosamente "antrolpológico", se é que podemos levar o programa tão a sério.

Digo isso porque Marcelo Dourado não é meu "ídolo" ou meu "favorito" neste jogo. É um ser humano rico em detalhes, em nuances, em filigranas escondidas atrás de zilhões de músculos e de muitas tatuagens. Um lutador de vale-tudo que fez balé clássico na infância. Um filho de pais rebeldes que, não tendo mais a pátria por que lutar, resolveu lutar por seu espaço no mundo. Um machista que é capaz de respeitar uma mulher de uma forma que Tia Dimmi ou Menino Andrógino nunca farão (caricaturas feminas não são homenagens - e nisso não vai embutido nenhum preconceito. Apenas a constatação de que, por trás da máscara feminina há uma penca de problemas não resolvidos... mas isso é papo pra depois!).
Marcelo Dourado me emocionou algumas vezes nesta edição do programa - e penso que não só a mim. Hoje, mais cedo, no tal papo com Michel e Tessália, ele confessou que atualmente mora em uma "comunidade". Depois esclareceu: é como hoje se chamam as favelas. Não sabia disso. E tenho certeza de que ele não contou pros dois onde mora por "coitadismo" - uma coisa que ele mesmo abomina. Ele contou porque Tessália perguntou. Senão não teria falado. Mas me fez pensar em quanto esse homem luta para se manter de pé. E isso é comovente - além de digno de aplauso e de vivas.

Se gosto de observar as mudanças de comportamento dos jogadores, tenho certeza de que não encontrarei no Dourado. Ele não muda - e é por isso que arrisco dizer que ele é o único participante deste programa, desde a sua primeira edição, que "é ele mesmo" - parafraseando uma das dezenas de frases feitas que os jogadores aprenderam a usar para cativar o público. É o único verdadeiramente verdadeiro - e isso inclui arrotos, peidos, falta de fé, símbolo que nazista surrupiou, distância de quem não gosta, rudeza na maneira de lidar.

Quero tanto vê-lo reconquistar o respeito dos outros, recolocar-se na sociedade a que pertence, encontrar a paz que procura e o reconhecimento por sua tentativa de melhora como ser humano. Será ganhando o prêmio? Talvez não. Mas quero tanto que, quando sair do programa, Marcelo Dourado encontre um mundo que o abrace, enfim."